Poesia Viva

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Homenagem à Água...


ÁGUA...

Água
jazendo no ventre da terra
quieta
escura
fria de cisternas criadas por Deus...

Água
rompendo barreiras
saíndo
jorrando
saltando vertentes
descendo montanhas

Água
saltando
cantando
dançando nos campos
subindo a alturas de céus rarefeitos

Água
caíndo
chovendo
transparente e fria
em condensadas pérolas de luz

Água
carícia materna
frescura e sabor
música da terra
caída dos céus em líquido amor...

Isabel


(Fotos de Isabel- Jardim da Gulbenkian, Lisboa)

O Fio ténue que tudo une...


Quase não se vê, apenas se sente!
Fio invisível que tudo move e anima
Força cósmica imperecível permanente
Que se move para baixo e para cima

Percorre todo o imenso espaço sideral!
Em ondas se movendo que atravessam
Todas as dimensões de forma total
Unindo tudo e todos por onde passam

Há quem lhe chame a negra matéria
Outros ainda a Energia Primordial
Outros, de Deus falam de forma séria
O TUDO ou NADA transcendental

O espermatozóide impele, e mais além
Um novo astro ou galáxia faz nascer
Às árvores e às belas flores traz também
A essência fundamental do próprio SER

Da água faz brotar, com os minerais
A energia que tudo renova e faz mover!
A atmosfera impregna com seus sais
Numa ânsia de tudo fazer renascer

É um fio ténue! Pequeno fio de prata
Que tudo fecunda, tudo renova e incita!
Nele tudo existe e tudo se retrata
Dele provém e para ele tudo se concita

Física quântica do tempo e do espaço
Em ondas sucessivas se propagando
Da leveza da seda e da dureza do aço
Continuamente acendendo e apagando

Química misteriosa esta, da própria VIDA
Que põe o Mundo a pular e a avançar
Que retira do BEM a forma mais querida
Que poucos nela querem e podem reparar

Poema de José António
17/02/2006 - 14 horas

(Foto de Isabel)

Abrir as mãos...


Abri a mão
E vi que estava vazia:
Por isso sorri...
De todas as posses,
A melhor é uma mão aberta...

Isabel

(Foto de Isabel - Jardim Botânico de Lisboa)

Uma folha de papel...


Uma folha branca de papel
É tudo quanto eu preciso
Para esculpir com o cinzel
O caminho por onde piso

E das moléculas não quero saber
As que entram na composição
Da folha onde posso escrever
Com os olhos do meu coração

Nessa folha branca, lisa e pura
Exponho à luz da grande ribalta
Um mundo todo feito de ternura
Que me faz sempre tanta falta

E quero esse mundo percorrer
Sempre presente e tão atento!
O que os meus olhos sabem ver
Levo comigo e voo com o vento

Poema de José António
em 28/02/2006

(Foto de Isabel - Cores Outonais na Holanda...)

domingo, fevereiro 19, 2006

A noite...


A noite é feminina:
Na sua azulidade
Aquece e acarinha
O campo e a cidade...

A noite é popular:
Na sua escuridão,
Iguala pobre e rico
E esquece a ambição...

A noite é infalível:
Pois cada dia acaba
Por se tornar na noite
Que já o esperava!

A noite é dos Amantes:
Poetas, Sonhadores,
Artistas por instantes
Criando seus amores!

A noite, com seu halo
Embala o novo dia:
Semeia nos seus sonhos
Desejos e Magia...

Isabel

(foto de uma Colagem de Isabel - As Tágides...)

Muitas Felicidades no Presente!

Dedicado a todos!

Também te desejo muitas felicidades
Por este momento presente: AGORA!
É o que tens! Contém todas as verdades
Ainda que queiras, não o podes jogar fora!

É para o viver hoje mesmo, plenamente,
Como se fosse apenas o dia derradeiro,
De maneira total e também serenamente,
Sendo tão somente o instante verdadeiro...

Dá-lhe toda a tua atenção, completamente!
Investiga, dentro de ti, tudo o que acontece
E sentirás algo irrompendo abruptamente,
Algo ligado a TUDO o que PERMANECE.

Algo que te faz abrir os olhos e transcender
Os horizontes que antes julgavas imutáveis:
O Amor, a Sabedoria e o próprio acender
De mil luzes, de cem mil cores inenarráveis...

E abre tua mente a essa possibilidade
Que na tua vida se há-se manifestar um dia:
Rega esse jardim com a força da Vontade,
Dentro de ti nascerá a verdadeira Alegria!

Aprende que no acto de Dar está a Magia
Quando dois olhos para ti sorriem, brilhando!
Aprende a transcender a tua própria energia
Quando para ti segues o Caminho, apontando!

José António

(foto de Isabel de um quadro do José António)

Numa rua de Lisboa... Recordando o Verão!


Lisboa, uma rua íngreme...
A calçada irregular dá cabo dos sapatos.
As casas podem estar sujas, mal tratadas, mas não são nunca feias...
Há uma certa alegria no ar, mesmo no meio da desordem.

Uma janela abre-se de repente.
Uma senhora de braços roliços, com uma blusa estampada com flores berrantes, começa a estender roupa enquanto grita. para dentro de casa, ordens às crianças...
A água pinga o passeio.
Um transeunte distraído apanha um pingo na cabeça.
Acordado assim, subitamente, dos seus pensamentos melancólicos, ergue a cara magra demais e enrugada de preocupações, para ver de onde vem aquela água gelada.
A senhora grita da janela: "Desculpe lá, oh vizinho!"
A cara rude abre-se-lhe num sorriso caloroso que consegue pôr cor na face do transeunte...

Adiante, dois rapazes discutem no passeio, até um deles se escarranchar numa moto e partir, numa nuvem de fumo e de barulho.
Da padaria vem um cheiro quente a pão e a bolos.
A velha professora do bairro dirige-se à pastelaria da esquina, onde se habituou a tomar café. Agora, que está reformada e viúva, falta-lhe o contacto com gente jovem, a "esgrima" diária de ideias e emoções.

Um carro de uma senhora nova, muito bem vestida mas claramente mal disposta, quase atropela o velhote dos jornais. Porque é que aqueles que têm mais, deixam de ver à sua volta?

O velho dos jornais tem a pele curtida pelo sol e os cabelos completamente polvilhados de branco.
Nem sempre foi vendedor de jornais. Durante muitos anos, andou no mar. Agora, que está velho, o quiosque do canto passou a ser uma ocupação menos violenta, mas que permite mesmo assim ajudar a família.
A sua paixão é a neta. Por isso até gosta de trabalhar no quiosque, onde ela às vezes vem fazer-lhe companhia e aproveita para ler os suplementos juvenis dos jornais ainda não vendidos. Ela diz que quer ser médica, e o avô não vê chegar o dia de a ver "doutora"!

O sol está tão forte, que os poucos homens que, por razões profissionais, têm que andar de fato e gravata, apresentam um aspecto afogueado e sofrido. Alguns, tentam alargar imperceptivelmente o colarinho e o laço da gravata...

O Senhor Manuel, por exemplo, que trabalha no Cartório Notarial, já só sonha com a noite de sexta feira, em que irá encontrar-se com a sua nova namorada, na zona ribeirinha da cidade. Aí, ao menos, faz fresco! E há tantos cafés e restaurantes nesta zona renovada da capital! Vai tão distraído, que nem vê que a empregada da Pastelaria só tem olhos para ele!

Um pardal desce em voo picado até à esplanada, onde o seu olhar fino e atento apercebeu umas migalhas caídas no chão. A esta hora, está pouca gente na esplanada, pode andar por ali à vontade, a saltitar no seu passinho alegre e ligeiro.

O vento traz agora uma brisa fresca, dourada pelo sol de Julho.

Entre as pessoas que se agitam, os pássaros, as árvores que estremecem ao contacto da brisa e do sol que as alegra, há na cidade uma paz invisível.

Isabel

(Foto de Isabel)

Uma flor...


Tímidamente, uma pétala se abriu...
Logo depois, outra e outra ainda!
Por fim, toda a corola se viu,
Dando forma a uma flor tão linda!

Seu perfume pelo ar se espalhou
Inebriando todos os que passavam...
E até mesmo o próprio Sol corou,
Em seus raios, que já se espalhavam!

E era tal seu maravilhoso perfume
Que tudo à sua volta vibrava,
Como quem ateia um vasto lume
Que toda a atmosfera impregnava...

E a pequena flor, tão pequenina,
Não queria em si própria acreditar:
Que sendo ainda assim tão franzina,
Já todos em redor pudesse maravilhar!

E sentindo-se tão bem no seu lugar,
Deu a Boa Nova a todos os seres:
A todos, sim, TODOS iria perfumar,
Fosse nas tristezas ou nos prazeres...

Foi decidido e assim ficou a constar,
Que as flores transmitissem a beleza:
Para esta vida poderem maravilhar
no meio de tanta rude e vil tristeza...

José António

(Foto de flores de Isabel)

Ruas de Lisboa...


Ruas de Lisboa:

Mística alegria
que de repente explode

na travessa íngreme
em que a roupa
pinga,
pinga,
e se afoita o Sol...

Leve
o ar envolve
em sua beleza
os passos alegres
que saltitam...

Será a Primavera
espreitando
o nosso olhar?

E o céu azul
reflecte-se
na folha de hera
a despontar...

Isabel


(poema e fotos de Isabel)

Conhece-te a ti mesmo...

Nicholas Roerich - Bridge to Glory

Conhece-te a ti mesmo e saberás
O que és tu, para além do que vês !
Então, certamente, também verás
O que está por detrás do que já és...

Deixa que a mente possa serenar,
Inunda-a com a Luz suave da Paz!
Põe fim ao seu eterno "conversar",
Acede a Tudo o que se faz e refaz...

Nesse outro plano, já não mental,
Que se inscreve no Tudo e no Nada,
Sentirás o pulsar do Essêncial
Que ilumina sempre a tua estrada...

José António

domingo, fevereiro 12, 2006

A Amizade...


Este poema tem de ser precedido de uma explicação.
Foi escrito em 1998 para uma Querida Amiga, a Margarida Robalo.
E continua a ser dela, mas achei que o poderia hoje partilhar com três pessoas
que "postaram" coisas belíssimas para mim no meu Aniversário!
Também a Margarida me enviou algo de inesquecível...
Por isso, dedico este poema:

À Margarida, ao Jorge Moreira, ao João Firmino e à Tmara!!!

Obrigada pelas vossas palavras, carinho e AMIZADE!

Dedico-o também a todos os Amigos e Amigas que deixaram comentários e mensagens nos posts referidos e a todos quantos nesse dia o tornaram especial para mim... especialmente a Ana Paula, o Lena e o Fernando, o João Parente. A Lena pintou-me um Quadro belíssimo que em breve penso poder aqui mostrar (ainda não tenho fotos).


A AMIZADE

A Amizade
pode ser um arco-íris
que te enche de prazer
e te faz rir!

Como uma brisa
leve e fresca
que te anima e te refresca
e te reveste
de um manto de alegria.

A Amizade
pode ser um talismã
que te protege
e guia pela vida
quando tens medo
ou te sentes vulnerável.

É uma luz,
uma lanterna colorida
que aquece a noite
e ajuda a ver a vida
com olhos de surpresa
e liberdade.

A Amizade
por mais que cresça nunca é demais!
Une quem ama e torna imortais
breves instantes de partilha e de saudade.

Isabel

(Fotos de Isabel)

De novo o Inverno...


Hoje fui redescobrir dois poemas do passado, mas que ainda consigo "sentir"!
Por isso aqui venho, partilhá-los convosco...


INVERNO I

Em manhãs de Inverno
o mundo se veste
em tons de cinzento...

Mas se o Sol regressa,
muda-se em azul
o cinzento espesso...

Há tons de azul
que vão do turqueza
ao pálido cinza...

O vento dispersa
os azuis de Inverno
soprando nas nuvens

Quando elas se afastam,
um raio solar
rápido, atravessa...

Fazendo luzir,
do lado de cá,
cores que transparecem...

Dourados e pratas,
pastel e limão
e azuis etéreos...

Há milhares de azuis
nos ceús deste mundo
prenhe de mistérios.


INVERNO II

Há no Inverno tal nitidez
como não há noutra estação:

Se surge a luz,
etérea, amável,
logo ilumina
o globo mundo
em mil reflexos
de ouro e malva...

Se o Sol se deita ou se levanta
ateia chamas
em suaves rimas
como algodão...

Se a Lua surge
a meio do dia,
enche-se o Sol de melancolia,
espraiam-se sombras pela cidade...
Mas é de noite
que a Lua vela
e pelos céus, navega,
bela
com o seu manto
azul sidério...

De novo surge, num céu de sonho
paleta mágica, irisada
feita dos risos de seres alados
e, com pedaços de asas de anjos,
escreve-se o céu em doces tons...

Quem os pintou, é um MISTÉRIO...


Isabel

(Fotos de Isabel tiradas em Lisboa, em pleno Inverno...)

terça-feira, fevereiro 07, 2006

CALEIDOSCÓPIO...


Calcorreio as ruas da cidade lentamente
Observando tudo à minha passagem:
Atenção continuada, sempre permanente,
Esbatendo completamente a minha imagem...

E sinto tudo como se fosse um só SER!
As aves rasgam os céus em voos picados...
As pessoas, passam apressadas, sem VER
Troncos de árvore que parecem parados...

Os gritos alegres das crianças ecoam no ar
Misturados com os pulos e as loucas correrias...
E a brisa fresca vem os belos rostos afagar
Revigorando sempre todas aquelas energias...

Os rodados dos carros eléctricos nos carris, chiam...
A buzina estridente penetra nos neurónios
Pondo em pé os cabelos que se arrepiam,
Acordando Pessoa e os seus Heterónimos!

Os velhos, à saída do Metro, pedem esmola...
Dois braços ajudam a manobra, mão estendida...
Um puto pendura-se no eléctrico, com a sacola...
A senhora no banco olha a mocidade perdida!

E escorrem as tintas desta grande variedade
Mundos correndo dentro de outros mundos,
Que a vida corre à frente da solidariedade
Empurrando tantos para a lama dos fundos!

A prostituta faz um sinal ao proxeneta
Dando o recado de a função ter acabado
O carro pára no sinal. Olha para a sarjeta
Sente-se o mau cheiro logo ali ao lado...

À frente dois namorados estão alheios
A este mundo, que gira à volta deles...
Comungam apenas os seus anseios
Excitam com os beijos suas peles.

E passa uma ambulância velozmente,
Em mais uma emergência de aflição!
Um garoto maltrapilho come um pão...
Na janela, um olhar perdido vagamente...

Nesta miríade de tantas vidas cruzadas
Meus olhos regressam ao presente!
Sentem: "As vidas só serão realizadas
Se TODOS começarem a SER GENTE!"

Gente de Corpo Inteiro, Espírito e Alma
Estando activos a mente e o coração...
Numa simbiose que a todos acalma,
Que a todos faz progredir a evolução.

José António

(Foto de Isabel - "Azáfama na Rua do Carmo")

Sentir...


Sente-se que anda algo no ar
Não se sabe, sequer, o que seja
Algo se pressente e tende a mudar
Não é ainda algo que se veja!

É mais nas mentes e nos corações!
Todos tendem para a Fraternidade...
É que estão cansados de agressões,
Preparadas com tanta brutalidade!

Mas essa mudança apenas está
Na consciência de cada pessoa...
Porque certamente algo virá,
Sente-se que alguma coisa ecoa...

Não mais se pode tolerar
A ignomínia que para aí vai!
A própria vida se pode acabar,
Se é só a vingança que sai!

Uns, são grandes usurpadores,
Que põem a miséria a render...
Mandam às malvas os amores
Pois não querem saber de perder!

Outros, tão ignorantes que são,
Que nem a vida amam... e cismo:
"Se não for a luz da razão,
Darão asas a todo o fanatismo"!

Vivemos todos a vida inteira
Nesta aridez tão sem jeito...
Esta maré não é a primeira
Que me chora todo o peito!

Saibamos todos contrapor
À ignorância e à usurpação,
Toda a força do nosso Amor,
A vontade de darmos a mão!

Um tempo novo, de mudança,
Que de todos se aproxima
Nos convida a entrar na dança
Da Vida Una que se anima!

José António

(Foto de Isabel, "Crescente sobre Lisboa", tirada no Chiado...)

domingo, fevereiro 05, 2006

Ainda o Inverno...


Um vento rápido arrasta consigo
nuvens de chuva e nuvens de luz...
O céu cinzento todo se move
como um só corpo, como um só sopro.
Súbito, ao fundo, já se levanta
(qual véu de nuvens e de mistério)
a ponta azul de uma promessa
de luz e côr, de sol de Inverno...

Isabel

(Foto de Isabel)

Ainda Lisboa no Inverno...


Quando Lisboa ainda era triste...

Hoje,
o Castelo está envolto
numa névoa azul...

O SOL
surgindo através
das colinas
da cidade

revela claros e escuros,

o ambiente
indizível
desta cidade, Lisboa.

Incongruente
com a tristeza ambiente,
a LUZ inunda o céu
e ilumina
o meu olhar...

Límpida,
lava com LUZ
a escuridão
do procurar
em vão...

Em Lisboa,

os tristes têm,
pelo menos,
a alegria do olhar,
a beleza da cidade,
da LUZ surgida do Mar
e da Saudade
adiada.

Até caminhar pela rua
é um exercício
de felicidade forçada.
Depois,
não resta quase nada
da tristeza de anteontem...

E o Castelo,
já menos azul
na distância,
continua a vigiar
os nossos corações...

Isabel

(Fotos de Lisboa tiradas por Isabel).

Paixão por Lisboa...


Ontem, quando "postámos" algumas das nossas manias, esqueci-me de mencionar que tenho uma verdadeira "paixão" por Lisboa... Por isso, vou agora começar uma série de "posts" dedicados à nossa cidade... Estes primeiros poemas sobre a cidade no Inverno são antigos, de quando Lisboa era triste... Adequados, no entanto, à Invernia, aqui vão...




INVERNO EM LISBOA I

Lisboa chora lágrimas
de chuva,
correndo como rios
pelas colinas
embaciadas de cinzento.

É como se a terra
perdesse a alegria,
ficando sem magia
os morros
e os vãos de escada...

As portas de madeira
encanecida
rangem em dobradiças
que gemem ao girar.

Dois vultos
descem a rua,
curvados,
debaixo da chuva
que os fustiga
caíndo sem parar.



INVERNO EM LISBOA II

Em casa,
os rumores das crianças
agitam o anoitecer.

Frente à janela,
a paisagem
perde-se no escuro invernil
e passa do anil
à escuridão
da noite funda.

Ao longe,
brilham luzes distantes
de casas onde habitam
- quem sabe -
outras pessoas
com pensamentos solitários...


INVERNO EM LISBOA III

Descendo a rua
ouço
o tocar dos sinos
numa qualquer Igreja
que não vejo.

E, porque a não vejo,
talvez pudesse ser aquela
a minha Igreja,
onde o silêncio fresco
me rodeasse
com os seus braços finos
e irreais
e me desse
a paz reconfortante
tão sonhada.

Na rua,
o empedrado reflecte
o som dos meus passos
a caminho
do resto da minha vida...


INVERNO EM LISBOA IV

Ao amanhecer,
uma nuvem rósea
- enganadora -
dá-me a ilusão
de um bom tempo
fugidio
e anónimo.

O Sol
rompe de repente
a barreira do cinzento,
apenas para deixar saudades
do Verão...

Canta
um pássaro saudoso
a sua melopeia
triste,
cheia de encantos desvanecidos.


INVERNO EM LISBOA V

Desço uma rua,
subo uma outra...
Todas as árvores
parecem debruçar-se sobre mim.

Uma, mais solícita,
acaricia com dedos de vento
meus cabelos...

É Lisboa no Inverno...

Isabel

(fotos de Lisboa tiradas por Isabel)

sábado, fevereiro 04, 2006

Do outro lado da rua...


No outro lado da rua,
Desta rua onde resido,
Fica um espaço sempre aberto
De esperança, a que presido
Duma nova Luz sempre nua
Que ilumina todo o deserto...

Neste deserto das ideias
Com que nos tentam calar,
Infiltrando nossas veias
Num longínquo murmurar,
É onde se erguem as peias
Para nos tentar amarrar...

E na tal rua imaginária,
Mas sempre do lado de cá,
Há sempre agitação diária
Semeando p'ra cá e p'ra lá
A vivência extraordinária
Que nos faz viver AGORA, JÁ!

José António

(Foto de Isabel de uma Rua de Lisboa com o Tejo ao fundo).

As nossas cinco manias!...


Por convite (ou devemos antes dizer "desafio"?) da Maria, no seu blog Thornlessrose, aqui passamos a indicar cinco manias que partilhamos, desafiando cinco outros blogs para participarem nesta "corrente", sabendo no entanto que nada de mal vos sucederá "se não o fizerem"!!!

Cinco das nossas manias:

Nunca seguimos uma receita culinária sem lhe acrescentarmos algo nosso... o que normalmente resulta muito bem!

Todos os dias queimamos velas e incenso... mas não o suficiente para poluir!

Não iniciamos as actividades do dia sem nos recolhermos pelo menos alguns minutos, focando a nossa atenção e dando depois o nosso melhor...

Tentamos sempre ver "o copo meio cheio", em vez de "meio vazio", mesmo quando isso pareça difícil ou despropositado...

Partilhamos muitos livros lendo em voz alta um para o outro... fazendo da leitura e da escrita a nossa "mania" mais arreigada e constante!

AGORA, os CINCO BLOGS desafiados:

Jorge Moreira;
Pedro Melo;
Desambientado;
Círculo de Poesia;
Tmara em Estranhos Dias.

Alea jacta est!

Isabel e José António em resposta ao Desafio da Maria!

(Foto de Isabel das Rosas de Baraçais - que têm espinhos!)

Caminhar...


Caminha! Caminha sem parar...
Depressa ou devagar, caminha!
Faz pequenas pausas para respirar,
Ouve a Alma, que em ti se aninha...

Observa! Vê com toda a atenção!
Verás que não existem horizontes
Que retenham a tua vocação,
Mesmo que altos sejam os montes...

Olha para a interminável lonjura
Onde se move todo o Universo,
Olha para dentro de ti, com ternura
E entende que és: verso e reverso!

Quando olhares para dentro de ti
Em altura e com profundidade,
Verás diante dos teus olhos, aqui,
Esta incomensurável verdade:

Tu és inteiro com toda a Vida,
És o imortal átomo permanente,
Que contém em si toda a energia
E se renova constantemente.

José António

(Foto de Isabel - Uma estrada no Norte de Portugal)

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

ÁGUA...


Este poema foi dedicado pelo José António ao Desambientado e escrito directamente nos comentários ao seu último "post" sobre água azeda... Mas depois pensámos que ficaría bem aqui, com a mesma homenagem ao Desambientado e aos valores da Natureza que ele defende e tão bem ensina.

ÁGUA

Água és só delírio ancestral
Que vem das entranhas da terra,
És parte da matéria primordial
Tudo, mas tudo em ti se encerra.

Assumes todas as gotas e funções
Tantos graus, estádios e formas,
Pelos olhos te escorrem emoções
Acolhes em ti todas as normas.

Banhas ilhas, tens desfiladeiros,
Despertas sonhos e horizontes...
Permites aventuras a marinheiros,
Crias a vida em todos os montes.

E parabéns vamos oferecer
A quem vive rodeado de água!
Quem escreve assim deve merecer
O poder de afogar toda a mágoa...

José António

(Foto de Isabel - reflexos de Água na Quinta das Conchas, em Lisboa)