Poesia Viva

sábado, dezembro 31, 2005

Porque me tens sido o Amor, a Força, a Luz...

Ao José António...

Porque me tens sido o Amor, a Força, a Luz,
ir ter contigo ao Chiado
é ir ao País do Sol...
É caminhar
como num sonho que reluz
pela cidade que nos viu nascer,
é poder ir ter contigo,
mais uma vez poder dizer
que qualquer rua contigo talvez fosse
País do Sol, esse Reino tão doce
onde sentimos a Alma florescer
e o coração atento e calmo.

Mas o Chiado, o coração desta Lisboa,
é para mim mais que um lugar,
mais que um evento,
é, para além do Espaço-Tempo,
esse País onde te amei
e conheci,
esse País do Sol
que agora brilha
eternamente
dentro em mim.

Isabel

(texto e foto)

sexta-feira, dezembro 30, 2005

CUF Descobertas, 27 de Dezembro ao fim da tarde...


Estranho nome, para um Hospital...
Mas chego lá como numa viagem turística.
Estou demasiado cansada para ir de transportes.
O corpo pesa-me como um fardo que quisesse alijar.
O táxi que tomo, no Chiado, leva-se junto ao Rio até à EXPO.

Dentro do Hospital, tudo parece claro, limpo e leve, pouco tétrico.
As paredes exteriores em azulejos claros reflectem a luz, típica de final de tarde.
Tudo tem, para mim, um ar "holandês", desde o ar moderno e limpo do prédio,
aos céus baixos da chuva que já veio e que se encheram de nuvens de várias cores...
Nuvens que brincam umas com as outras, num escuro claro que depende de um outro jogo de escondidas, o que o Sol faz com o que resta do dia...
Enquanto espero, através das janelas amplas rasgadas a todo o comprimento do corredor onde me encontro, vejo os céus baixos que viajaram desde a Holanda para me cumprimentarem.
As nuvens, sopradas até parecerem velas de antigas caravelas, parecem flutuar mansamente e reflectir assim as cores projectadas por invisível mão...

No final, passo na cafetaria. Fora, à direita, um lago reflecte o céu, as nuvens, as cores, agora ténues... Faz-me sentir docemente serena neste fim de tarde...

Isabel (texto e foto).

Rua Garrett, 26 de Dezembro de 2005, às 18H07...




À hora do sol pôr, Lisboa na zona do Chiado tem um raro encanto!
O Céu, ainda azul claro, esvoaçando uma nuvem rosa intenso sobre outras, maiores, tais fofos tufos cinzentos azulados... e subitamente acendem-se os candeeiros antigos, remetendo-nos para uma outra época!
As casas pombalinas reflectem ainda a luz coada do fim do dia.
Como tudo é grandiosamente belo e presente!
E que alegria poder testemunhá-lo!

Isabel (texto e fotos).

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Serenidade...


Uma linha plana no horizonte
Traça a fronteira entre céu e terra
Como se fora uma enorme ponte
Onde tudo aquilo que existe aterra

Essa linha divisória que se traça
Quando olhamos a imensidão do mar
E sem avisar a alma nos prepassa
Deixando-nos sem palavras a pensar,

É um sentimento de intensa serenidade...
Começa por invadir todo o nosso ser
Alcançando tão completa profundidade
Que nos permite tudo sentir e ver

Ver quão ténue e rara é a diferença
Entre o seu contrário e aquilo que É
Não, não depende apenas da crença
Estando muito para além da nossa fé

É um Antes e um Depois serenamente
É um Sim e um Não tão indivisíveis
Basta tê-los no coração eternamente
E aos olhos da alma serão visíveis

Invade-nos assim tão docemente
Este estado de permanente lucidez
Que cairá por terra bruscamente
Qualquer sentimento de altivez

E deixando-nos assim maravilhados
Entregues à unidade universal,
Procuramos na vida, inteirados,
Esta união pluridimensional.

José António

29/12/2005

(foto de Isabel)

terça-feira, dezembro 20, 2005

Quando a poesia...


Quando a poesia surge
Não se sabe de onde vem
Algo que de dentro urge
E se manifesta também

Quando a poesia irrompe
Com a ânsia dum novo dia
Todas as barreiras rompe
À procura de nova magia

Dentro do SER tudo vive
Âmago que se transforma
Habita e nunca se revive
Alquimia feita por norma

Do sonho terá largas asas
Capacidade de improvisar
E voa por cima das casas
Quer nova forma de amar

E tudo transforma a poesia
Tudo inflama e tudo alcança
Azul do mar com maresia
Amor, Paz e a Boa Esperança

Saibamos senti-la no coração
Que se torne límpida e viva
Seja início de transformação
Para outro sentido da vida

20/12/2005

José António

(foto de Isabel)

sábado, dezembro 17, 2005

Do Outono ao Inverno - 3 -


Na fúria do mundo
encontro uma calma
que me não explico
e que vem da Alma...

Se é calma e serena
de um regaço vem...
da antiga Terra
a mais ampla MÃE...

No estretor do mar,
ou na fúria ocre,
permanece a vida
oculta, que sofre...
Na noite haja esperança,
e no olhar da Criança...

Isabel - Momentos - 11 de Outubro de 2005

(foto de Isabel)


Do Outono ao Inverno - 2 -



Assomam os céus
pesados de Outono,
pesados de sono...
Apetece dormir...

O peso do ar
paira sobre nós.
O peso é PRESENÇA,
nunca estamos sós,
entre Terra e Céu,
num ar flamejante
longínquo e presente
de chama e rompante...

Permanecem nuvens
vigiando, atentas,
se dormes, se sonhas,
ou se apenas tentas...

Isabel - Momentos - 11 de Outubro de 2005

(foto de Isabel)

Do Outono ao Inverno... - 1-



Começam agora
os momentos doces
de fim de Verão...

Alongam-se as tardes,
esticam-se as sombras,
por detrás do mundo...

Na noite, o perfume
das flores 'inda vem
adoçar o ar...

E as estrelas espreitam,
e ainda acalentam
e vêm espreitar...

Isabel - Momentos... 11 de Outubro de 2005

(Foto de Isabel)


Mesmo na noite mais escura...



Nicholas Roerich - Star of the Hero
(Imagem obtida da Internet)

Mesmo a noite mais escura
Tem sempre, como referência,
a Luz que nos vem do céu...

Isabel

Lisboa 14 de Dezembro de 2005

Lisboa no Natal...


Amo Lisboa no Natal.
As ruas cheias de sol, a azáfama das pessoas, o aroma das castanhas assadas.
Ao por sol, as Palmeiras do Jardim Botânico, em contra-luz, fazem lembrar um paisagem tropical que ali pairasse por engano. E de noite, subindo a Avenida da Liberdade, onde as árvores estão coroadas de enfeites de luz, sinto conforto e uma alegria serena.

Isabel

(texto e foto)

Ânsia de Viver...


Dentro de nós, sempre sentimos
Esta ânsia profunda a pulsar:
Para além dos cinco sentidos
Num desejo de tudo fecundar.

Fecundar com um Amor profundo
O mais íntimo, o âmago do SER,
Tudo iluminar, o alto e o fundo,
Como quem tivesse pressa de viver.

Abraçar o mundo todo, inteiro,
que cabe na palma da nossa mão!
Saber com o Coração, que é verdadeiro,
Iluminar a Razão e a Emoção.

José António

(foto de Isabel)

domingo, dezembro 11, 2005

Todos somos os Poetas da Vida...


Queridos companheiros de blog,

Ontem, com algum sacrifício físico mas muito ânimo na Alma e Alegria, lá fomos até Setúbal assistir ao lançamento do livro do João Firmino, que nos "apresentou" a este Círculo de Poesia.
Valeu a pena. Pelo João, sempre, mas também pela atmosfera de pura e límpida criatividade, pelas pessoas generosas que acreditam em realizar projectos culturais (especialmente na área da Poesia), pela Amizade que perpassava entre a assistência, os Músicos que com o João Firmino foram tocando e cantando ao longo do lançamento, tornando-o num dos mais completos e inspiradores que já vimos.

Para o João, gostaríamos de dizer que esteve magnífico, e sem quaisquer "constrangimentos", apesar de todas as pontes para o infinito lá abertas!!! (Isto é uma frase que só os que lá estiveram compreenderão melhor, sobretudo o próprio João).

Foi uma sensação engraçada cruzarmo-nos pela primeira vez, físicamente, com pessoas com quem nos escrevemos no Círculo, que visitam também o nosso blog e que "já conhecíamos" sem os termos encontrado.

Voltar a Lisboa pela Ponte Vasco da Gama foi um espectáculo de luzes feéricas que ajudou a descansar o meu corpo - que a Alma, essa, esteve sempre bem.

Um grande abraço para todos.

E, finalmente, uma homenagem (atrasada) à Flor Bela:

Todos somos os Poetas da Vida...
Em cada dia descobrimos sentidos
Ou por vezes, numa "vida perdida",
semeamos os sonhos vividos...

Tu perdeste essa vida na vida...
Há quem possa na vida encontrar
um sentido para a tua, perdida,
se calhar pelo teu muito AMAR.

Eras pura e intensa. Vivias
emoções, pensamentos e dores
que ninguém sabia partilhar,
como uma tela feita de mil cores
que num rompante decidiste apagar...

Mas, hoje e sempre, onde um de nós estiver,
há sempre um mundo onde viveremos...
Pois as palavras que amámos e dissemos
continuarão a povoar o mundo.

Somos todos Poetas da Vida...

Isabel

Lisboa, 11 de Dezembro de 2005.

(texto e foto de Isabel)

sexta-feira, dezembro 09, 2005

As lágrimas de uma vida...

Silenciosamente acompanhava no meu coração e SER toda a complexa situação da Isabel. Aquele Ser de Luz e Paz (uma expressão muito empregue pela Tmara) vibrava até à mais ínfima partícula com um brilho desmesurado no olhar, ante a eminência de que o seu atraso mensal se transformasse numa notícia transcendente (porque é sempre transcendente sentir a criação dum novo ser)...

Transcrevo apenas uma pequena estrofe minha de há já alguns anos (nem sequer a conhecia):

"...
Quando a ternura nos brota
Como a Água da nascente
É como a vida que é gerada
De quase tudo e de nada
E só por dentro se sente
..."

Mas a vida é um carrossel. Subimos e descemos e sentimos (alegria, tristeza, desespero e serenidade) para tudo transmutarmos em fio de luminosidade intensa, e profunda.

Sózinho, chorava baixinho! Algo me dizia no mais profundo do ser que tal não se iria tornar verdade. Mas como dizer-lhe? Como roubar o brilho intenso do olhar? Chorava sem lágrimas. Não aquelas que nos caem dos olhos. Mas as outras interiores. Daquelas que queimam tudo por onde passam.

Aguenta-se tudo. Por amor. Amor profundo e intenso. Mas lúcido. Sereno. Amar por amar. Sem fintas, sem , desta vez, passes mágicos. Mas com poesia. Com abertura para o que a vida nos trouxesse. Trouxe-nos isto...

E é nestas alturas que ganha novo alento a coragem. Viver o AGORA. Dar-lhe (ou tentar) dar-lhe a volta. Superá-lo. Em sabedoria; em serenidade, em confiança em algo maior que tudo comanda.

E pelas lágrimas; pela tristeza e pela pronta transmutação de algo triste em algo positivo, pequena luz no fundo do túnel, a alegria irrompe do mais fundo do ser. A esperança é profundamente alicerçada nesta magia ininterrupta que brota a cada instante...

Outras estrelas, e seus pós, hão-de lançar suas sementes....

O amor, aquilo que lhes dá vida, permanece!

Outras cores tingirão tudo em redor, pintando a vida.

José António.

09/12/2005

Numa noite as lágrimas...



A mulher não era nova nem velha.
Da juventude, ficara-lhe ainda o brilho dos olhos, grandes como perguntas e o sorriso pronto...
Mas no corpo trazia as marcas da vida: marcas de lutas antigas e actuais, do trabalho, das noites mal dormidas, dos filhos amamentados e criados e de tantos sonhos, tantos, uns mortos e outros realizados...
Mas apesar de tudo isso, apesar das lutas e do cansaço, a mulher ficou feliz quando o seu corpo mudou, anunciando talvez um filho tardio...
As manhãs e os dias escondiam no seu ventre a expectativa, o sonho, a imagem dessa criança que nunca suposera tão desejada, como um bálsamo há muito esperado... E a esperança de vida dentro de si, mesmo fora de tempo, pôs um misterioso sorriso na face cansada mas iluminada de expectativa...
Os dias passavam-se e reforçava-se já a ideia da criança. Podia quase vê-la, sempre de olhar límpido e risonho... e nos seus ouvidos ressoava o riso dobrado da criança...
Os dias sucediam-se em ritmo alucinante, entre o trabalho, os filhos, as consultas de rotina deles e, agora, também as suas. Sabia que a generalidade das pessoas lhe teria dito que era loucura, depois de vários filhos crescidos, ter este sonho - inapropriado para esta sociedade apressada e fria - de trazer no ventre mais um filho!
A cada novo dia que passava sem que o sonho fosse desfeito, ficava ainda mais convicta de que este seria o seu último sonho de meninice, trazendo-lhe paz e ternura.
Por isso, quando os médicos lhe explicaram que o seu ventre albergava um tumor, em vez de uma criança, a mulher sentiu que lhe roubavam - não apenas o que lhe restava das entranhas - mas o seu sonho derradeiro.
Depois dos exames, chegando a casa viu que sangrava - e este sangue, que não trazia vida nem marcava ritmo de vida - fez com que, finalmente, as suas lágrimas caíssem.
Com elas amortalhou o sonho da criança que nunca existiu, senão no seu coração.
Ainda a vê, ainda ouve as suas gargalhadas... mas sabe que essa criança, sua não será.

(Texto de Isabel e foto de José António)

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Gota de Água...






Uma gota de água caiu no chão
Trazendo nela todo o Universo,
Emoção, razão, transformação,
o sim, o não, o verso e o reverso...

Pura como uma criança sorrindo
Inocente como toda a Natureza
Bela como uma flor se abrindo
Sábia, com toda a sua Sageza...

Estava ligada a tudo o que existe
Na delicada fragilidade do SER,
Trazendo em si a força que persiste
No olhar de quem a quisesse ver.

E nesse Universo cristalino
Continha em si toda a Poesia...
Tinha um mineral duro e opalino
E também o cheiro da maresia.

Era lágrima, rio e todo o Mar...
Da Galáxia, um frágil fragmento...
Em si, tinha a vontade de amar,
Das estrelas, todo o firmamento...

Trazia o vermelho da paixão
Percorrendo-lhe a vida nas veias,
Ânsia de viver da vida a emoção,
De romper de vez todas as barreiras.

Era uma simples gota de água,
Que ao mundo estava a gritar:
A vida está para além da mágoa,
A Alegria está no acto de DAR.

José António.

Lisboa, 30 de Novembro de 2005.

(Foto de Isabel)

É noite e chove...





É noite e chove...

Aquela mulher
está à janela a espreitar o mundo.

Quem sabe o que sentirá?
Se, no seu SER mais profundo,
alguma dor roerá
o coração destroçado?

E o mundo fica parado
pelo peso desta pergunta,
que perturba até as estrelas,
que a vêm, lá na janela...

Aquela mulher parece,
talvez não triste
mas longe...
Onde andará sua chama?
Aquela luz que parece
que dos olhos vai saltar
numa prece?

Aquela mulher, de noite,
debruçada na janela,
será que é mesmo ela
que ontem na praça vi,
com uma rosa na lapela?
Pareceu-me então que sorria,
mas agora,
na noite chuvosa e fria,
não sei o que então teria,
já não parece risonha...

Debrucei-me na janela.
Fiz-lhe um sinal com a mão...
E - alegra-se-me o coração!
Eis que a mulher na janela
sorri e acena com a mão!

Já não chove
e eu fiquei
com calor no coração...

Afinal, mulheres ou estrelas,
todas somos bem pequenas,
é preciso dar-se a mão.

E do sorriso partilhado
as estrelas fizeram luz
que agora no céu reluz.

Isabel

Lisboa, 01H55 do dia 2 de Dezembro de 2005.

(foto de Isabel)

VIVER





Viver é sentir o mundo a pulsar
É sentir sempre o momento presente
É todos os dias poder amar
E sentir o frémito permanente...

É saber as manhãs e os dias
Sentir que o Sol está sempre lá
Que é a origem de todas as alegrias
E que sempre disponível estará...

Nem mesmo as nuvens sombrias
Que o tapam frequentemente,
Podem impedir suas magias
De tudo vivificarem permanentemente.

Viver é saber sentir a beleza
Nas coisas simples e singelas,
Da água nascente, sentir a pureza
Das flores, o aroma, porque são belas!

Viver é ter, dentro do peito,
Um pássaro sempre a voar
E olhar para o que está feito
Sabendo que se pode melhorar...

Viver é amar, em cada um,
O que de melhor todos têm
E ao mal (que também há algum)
Não lhe dar importância, se vem!

Viver é o mundo percorrer
Sabendo descer e subir
Para dar importância ao SER
e a energia poder assim fluir.

Viver, é sentir o sal do mar
Em ondas de branca espuma...
É sempre uma solução encontrar
para todas as dificuldades, uma a uma...

José António

(poema de José António de 24 de Outubro de 2004 e foto de Isabel)